
Já pensou na quantidade e diversidade de portais que atravessa no seu dia-a-dia?
Podemos simplesmente considerar que o significado de portal remete para a passagem entre espaços, seja interior para exterior ou vice-versa. A sua condição de limite espacial transmite um manifesto instantâneo a quem o atravessa: a permissão (ou não) de atravessamento.
A entrada ou saída de um espaço para outro é assinalada, na esmagadora maioria dos casos, pela existência de portas, opacas ou transparentes. Mas nem sempre é assim. Existem situações de atravessamento que nos captam a atenção pela ausência de portas. Quantas vezes nos deparamos ao longo da nossa vida com ruínas – seja na cidade ou no campo – cujas entradas há muito foram despidas das suas portas ou portões? No entanto, os nossos sentidos interpretam, através das ombreiras e padieiras que teimosamente resistem à passagem do tempo, a existência inequívoca de um limite espacial. Entre um dentro e um fora.
Por vezes os nossos passos hesitam… contrariando os olhos que se revestem de curiosidade perante a escancarada possibilidade de explorar o que se encontra do lado de lá.
De facto, o portal adquire especial significado no nosso dia-a-dia pela sua escala e materialização. É evidente quando ao entrar temos de ceder passagem a quem sai, pois a sua largura é curta; ou quando, ao sairmos de uma catedral, o nosso olhar se eleva instantaneamente ao céu, pela sua enorme altura.
Ou então quando simplesmente rodamos a chave na porta de entrada de casa no final do dia e ao atravessá-la, sentimos o mundo a adormecer do lado de fora.
Já pensou na quantidade de portais que atravessou hoje?
©10dedosvalentes | TR | 2020